HISTÓRIA

No século XVII, no vale do rio Comprido era plantada a cana-de-açúcar. O açúcar produzido era escoado por um trapiche em embarcações que o conduziam até a baía e ao porto do Rio de Janeiro, mantendo durante décadas a região que corresponde aos atuais bairros da Cidade Nova, do Catumbi e do Rio Comprido (mapa 1) como uma área agrícola com poucas conexões com a Núcleo Central da Cidade do Rio de Janeiro (Freguesias de São José, Castelo, Candelária, Santa Rita e Sant’Anna). Às margens desse rio, inicia-se o povoamento do vale. As poucas casas fixadas às suas margens pertenciam aos colonos que o usavam também como meio de transporte para chegar à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, sede da Província. Era através dele que chegavam os mantimentos e comércio. 

Mapa 1. Divisão dos bairros e zonas da Cidade do Rio de Janeiro (fonte: Wikipédia). 

O bairro do Rio Comprido, onde esteve o Quartel General do Exército no tempo de D.João VI, tinha se tornado, como Botafogo, um bairro de preferência de classes abastadas, dentre as quais se destacavam moradores de origem inglesa que ali dispunham de casa própria ou viviam em pensões de compatriotas, rodeados de vastos parques. O Rio Comprido tornou-se, no século XVIII, uma área ocupada por chácaras de pessoas abastadas, dentre as quais, a Chácara dos Ingleses, as quais durante muito tempo seriam o tipo de propriedade, mais comuns naquelas paragens. Um rio comprido, que deu nome ao bairro, corria atrás dos quintais da Rua Aristides Lobos, onde tinha Chácara e Residencia, o Visconde de Jequitinhonha. A região do Rio Comprido era ocupada por grandes chácaras, solares e belas residências, que se espalhavam pelas vias que se dirigiam ao Engenho Velho (Grande Tijuca) através da atual rua Hadock Lobo. No encontro do Caminho da Cova da Onça (rua Santa Alexandrina) com o Caminho do Catumbi (rua Itapiru, que não chega mais nos dias de hoje ao largo) surgiu o Largo do Rio Comprido, abrigando, já no séc. XIX, moradias de importantes figuras políticas e comerciais da capital, que junto com outros mais afortunados fugiam das pestilências (principalmente a febre amarela e a cólera morbo) da parte central da cidade para lugares mais altos ou mais distantes. A chegada ao largo se dava pela Rua Aristides Lobo, sendo a pequenina Travessa Rio Comprido uma lembrança desse tempo. Sua chácara mais famosa era a Casa do Bispo, construída na Avenida Paulo de Frontin que ficou conhecida como Quinta do Bispo, uma das mais belas e nobres residências rurais de todo o Brasil. Foi construída no início do século XVIII, em terras que pertenciam à Sesmaria dos Jesuítas, na Fazenda do Rio, para servir de casa de campo e chácara para recreio do segundo Bispo do Rio, Dom Frei Francisco de São Jerônimo. O conjunto original era formado pela casa e por uma capela, ligadas por um passadiço, que pode ser visto na gravura de Ender, de 1817. A capela e o passadiço não sobreviveram até os nossos dias. A Quinta do Bispo passou por várias mãos até que, em 1873, a casa foi legada ao bispado da cidade, que ali instalou o seu Seminário Maior, o Colégio Episcopal de São Pedro de Alcântara (imagem 1). 

Imagem 1 - Na litografia de Bertichem, destaca-se o Colégio Episcopal de São Pedro de Alcântara, uma antiga e luxuosa residência rural anteriormente conhecida como Quinta do Bispo. Debret também registrou o prédio, na litografia “A Grande Casa de Campo”, classificando-a como ideal “para dar uma idéia da mais nobre construção de uma antiga residência rural”. A residência encontra-se no endereço: Avenida Paulo de Frontin, 566 - Rio Comprido, Rio de Janeiro - RJ, 20261-243, Brasil
As terras do Bispo se estendiam até a chamada Pedra do Bispo passando pelo Largo do Bispo (atual praça Condessa Paulo de Frontin – foto 1).

Foto 1 - Praça Condessa Paulo de Frontin com a Igreja de São Pedro ao fundo, em 1922.
A partir de 1891, e até poucos anos atrás, nela funcionou o Seminário São José, transferido da Rua da Ajuda, no sopé do morro do Castelo. Tombada pelo Patrimônio Histórico e restaurada em 1980, a casa pertence atualmente à Fundação Roberto Marinho. A Quinta do Bispo divide o terreno com a Igreja de São Pedro, com a Casa do Padre (instituição de repouso e hospedagem) e com o Jornal do Brasil (espaço cedido pela Igreja). De acordo com o historiador Noronha Santos, pode-se fixar como marco do desenvolvimento da região, o Alvará-Régio de 26 de Abril de 1811, que concedeu a isenção de uma taxa pública (a décima urbana) aos prédios assobradados ou de sobrado que haviam sido construídos, desde o princípio do século, nas novas ruas abertas na região. O bairro teve sua urbanização iniciada antes da Tijuca, em 1812, e deve seu nome ao Rio Comprido que corria atrás dos quintais da Rua Aristides Lobo. 

Foto 2 - Av. Paulo de Frontin, em 1920, com a Igreja de São Pedro à direita.
O principal logradouro do bairro era a Avenida Rio Comprido (atual Av. Paulo de Frontin) aberto, em 1919 (foto 2), na gestão do Prefeito e engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin à época do governo do presidente Delfim Moreira. Antes de ser prefeito, Paulo de Frontin tinha sido responsável pela remodelação do centro da cidade do Rio de Janeiro durante o governo do prefeito Pereira Passos. O canal do Rio Comprido dividia as duas faixas da Avenida Paulo de Frontin. A Rua Santa Alexandrina foi aberta, em 1841, para acessar um aqueduto que descia de Santa Teresa, seguindo pelo caminho do “Trilho do Sumaré”. No trecho superior do Rio Comprido, na Lagoinha, ficava o aqueduto do Catumbi (atual Estr. Dom Joaquim Mamede) que se conectava com os “canos da carioca”. Nessa época o Rio Comprido, pertencente a bacia do Mangue (mapa 2) ainda corria no seu leito natural, tendo sido retificado em 1919, quando então foi aberta a avenida Paulo de Frontin.

Mapa 2 - Elaborado por Clarisse Muller.

A Rua do Bispo (foto 3) foi aberta, em 1844, ligando-se às ruas do Rio Comprido (atual Aristides Lobo) e Estrela, assim chamada pelo fato de nela se situar o Solar do Barão da Estrela. A rua mais longa do bairro era a Rua Bela Vista, que depois recebeu o nome de Rua Barão de Itapagipe, em homenagem ao Marechal Francisco Cabral Xavier da Silva, português de nascimento e que ali possuía uma chácara. Nesta rua vivia também, num solar, o Conde de Sucena dono de uma casa de artigos religiosos.

Foto 3 - Esquina da rua do Bispo com a Avenida Paulo de Frontin, em 1920.
No local (rua Barão de Itapagipe, hoje, hoje está instalado o Hospital Central da Aeronáutica. No Largo do Rio Comprido ficava o Solar do Conde de Estrela e em suas terras foi aberta a Rua Estrela. Havia ainda a chácara de Haddock Lobo localizada entre a Rua Estrela e o trecho inicial da Rua Barão de Itapagipe. Transformado em um elegante bairro da cidade, com moradias do tipo sobradões de alto nível (foto 4), onde moravam famílias ricas e tradicionais, o Rio Comprido abrigava dois clubes destinados a atividades de lazer dos moradores, o Clube Desportivo do Rio de Janeiro (Clube Alemão), o Clube Ibéria (já extinto) e o Clube Minerva (na rua Itapiru).

Foto 4 - Casa na rua Aristide Lobo nº. 238 (foto de 1925)

Embora o Rio Comprido tenha iniciado sua urbanização por volta de 1812, anterior aos demais bairros de seu entorno, somente no século XX que nele ocorrem grandes transformações. Em 1919, O Presidente da Republica, Delfim Moreira, nomeia como Prefeito do Distrito Federal o Engenheiro Paulo de Frontin. Entre as obras de sua gestão, consta a abertura da Avenida Rio Comprido, nomenclatura inicial e rebatizada pelo povo durante a inauguração com a avenida Paulo de Frontin. Este logradouro com 1600 metros de extensão, tornará-se a principal artéria do bairro, especialmente com a inauguração do Túnel Rebouças em 1967, importante eixo de ligação norte/sul da Cidade. Entretanto pouco restava do aprazível e bucólico bairro do Rio Comprido. Na década de 1960, ganhou destaque o Ponte's Clube, localizado em frente à Alameda Leontina Machado (ligação entre a Av. Paulo de Frontin e a Rua Santa Alexandrina e ocupada sómente por componentes da "familia Machado") era o grande ponto de encontro da boemia do bairro. O Clube deu lugar, mais tarde, à Turma da Ponte que se reunia todas as noites na ponte em frente ao Clube Ibéria.Havia ainda as residências das famílias Born e Casás, que organizavam festas juninas famosas em toda a cidade, além de reuniões para lançamento de balões de grande porte, atraindo moradores de vários bairros da cidade, principalmente da Tijuca, Catumbi, Andaraí e Vila Isabel.O prédio do Seminário São José, já extinto, bem como a Igreja de São Pedro, ajudavam a compor o local, juntamente com um local menos sofisticado utilizado pelos moradores, o "Campinho do Raul" (na parte alta da Rua Sta. Alexandrina), onde eram realizadas as "peladas" da Velha Guarda. O bairro era servido por uma linha de bondes e por lotações cujo ponto final se localizava na parte alta da Rua Santa Alexandrina. Os lotações ficaram famosos por descerem a Avenida Paulo de Frontin em grande velocidade, disputando passageiros com as linhas de bondes que serviam o bairro. O lotação foi substituído, mais tarde, por uma linha de ônibus (616 - Rio Comprido-Usina) já extinta (foto 5).

Foto 5 - Linha de ônibus circulando pela rua Itapiru, em 1967.

A partir de 1970, atendendo as necessidades urbanas crescentes do Rio de Janeiro, iniciou-se a construção de uma via expressa sobre a Avenida Paulo de Frontin, cujo nome oficial é elevado Engenheiro Freyssinet, mas por se encontrar no mesmo traçado da Avenida Paulo de Frontin, passou a ter mesma nomenclatura do logradouro citado, isto é, elevado Paulo de Frontin.

Fontes das fotos e imagens: