CONDICIONANTES NATURAIS

Localizado no eixo do vale e sopé de encostas da vertente norte do maciço da Tijuca, cidade do Rio de Janeiro, o bairro do Rio Comprido recebeu seu nome devido a um rio que o corta. Este rio desce o Maciço da Tijuca e deságua no Canal do Mangue (posteriormente na Baía de Guanabara), sendo um dos contribuintes da bacia do Mangue (conforme mostra a figura abaixo).
Os rios da bacia do Mangue se formam nos contrafortes do maciço da Tijuca, um importante dispersor de águas pluviais que convergem para os fundos de vales e zonas de baixadas circundantes. No século XVII, neste vale fluvial era plantada a cana-de-açúcar, sendo o açúcar produzido escoado por trapiche¹ em embarcações que o conduziam até a baía de Guanabara e ao porto do Rio de Janeiro. Nessa época, o rio era parcialmente desviado pelo Aqueduto do Catumbi, que abastecia parte da cidade, localizado no início da Rua Santa Alexandrina. O rio Comprido ainda corria no seu leito natural, no topo da Rua Santa Alexandrina. Pode-se dizer que, boa parte do rio corria atrás dos quintais da Rua Aristides Lobo até chegar ao canal do mangue. Em 1919 seria desviado para a abertura da Avenida Paulo de Frontin. No final do século XIX (1857), foi iniciada a obra de construção do canal do Mangue. Esta foi considerada uma das maiores obras de saneamento do período do Império, pois possibilitou a extinção da Lagoa da Sentinela e dos pantanais de São Diogo, foco de doenças, mosquitos e exalações desagradáveis. No início do século XX, com a reforma urbana de Pereira Passos (1903-1906), seus afluentes, como os rios Comprido, Joana e Maracanã, foram retificados e canalizados integrando um sistema de canais artificiais. Integrados ao Canal do Mangue, são a principal via de escoamento, para a Baía de Guanabara, da drenagem desta vertente do Maciço da Tijuca. Em 1919, o rio Comprido passaria por outra reforma destinada à abertura da Avenida Paulo de Frontin. A ausência de políticas de saneamento, acabariam por transformar o Mangue e seus afluentes em importantes condutores dos esgotos sem tratamento de grande parte da população da cidade. Os efeitos do processo de urbanização na região da bacia do Mangue podem ser percebidos pelo comportamento hidrológico das encostas e fundos de vales. A impermeabilização do solo devido à ocupação urbana acarretou o aumento do escoamento superficial, fazendo com que um maior volume d’água e sedimentos convergissem para os eixos naturais de vales (rios e córregos) ou através de drenagens artificiais (canais e tubulações pluviais). O aumento de intensidade das descargas de fluxos d'água e de sedimentos resultou em impactos, tais como as enchentes observadas na Praça do Rio Comprido e arredores. Concentrando bairros de elevada densidade populacional, Tijuca, Grajaú, Andaraí, Vila Isabel e Rio Comprido, a vertente norte do Maciço da Tijuca, observou ainda, o avanço da expansão urbana em direção as suas de encostas marcando a paisagem com a presença de favelas (Andaraí, Cruz, Borel, Formiga, Salgueiro, Turano, Querozene e Morro dos Prazeres). A expansão urbana acabou e a ausência de políticas de saneamento, acabariam por transformar o Mangue e seus afluentes em importantes condutores dos esgotos sem tratamento de grande parte da população da cidade. Os efeitos do processo de urbanização na região da bacia do Mangue podem ser percebidos pelo comportamento hidrológico das encostas e fundos de vales onde pode ser registrado um aumento na produção do escoamento superficial. As maiores concentrações de sedimentos convergem para os eixos de vales canalizados naturalmente (rios e córregos) ou artificialmente (canais e tubulações pluviais). Os canais não comportam o aumento de intensidade das descargas de fluxos d'água e de sedimentos, provenientes das transformações no comportamento hidrológico das encostas florestadas, resultando em efeitos como as enchentes observadas na Praça do Rio Comprido e arredores. O bairro do Rio Comprido foi um dos bairros que mais sofreram com os efeitos das intervenções urbanas realizadas no Rio de Janeiro. Até a década de 1960, a Av. Paulo de Frontim era uma rua arborizada, com bons e belos sobrados e alguns edifícios de apartamento correndo ao longo da avenida, com o rio que corria no canal ao centro dividindo a avenida em duas pistas. No início dos anos 1970, embora totalmente urbanizado, continuava a ser um bairro agradável de classe média. Mas com a abertura do Túnel Rebouças e a construção do elevado Paulo de Frotim, na década de 1960, sua rua principal e seu entorno passaram por um rápido processo de desvalorização com efeitos sobre o controle da qualidade das águas do Rio Comprido. Com a construção da via elevada por sobre a rua principal e o rio, ao longo de toda a sua extensão, aconteceu a desvalorização em função da sombra sobre a avenida, o inevitável dano estético causado pelo viaduto e o barulho ao qual os moradores dos prédios e casas de frente para o viaduto ficaram sujeitos. 

Nota: 1 - Armazém ou depósito de mercadorias de embarque ou desembarque.